Estação Fluvial do Cais do Sodré
Estação Metropolitana do Cais Sodré
A Estação do Cais do Sodré é uma Estação ferroviária e actualmente, também
uma estação de Metro de Lisboa, servindo de Terminal da LINHA VERDE.
O Projecto arquitectónico é da autoria do Arquitecto Nuno Teotónio Pereira,
as intervenções plásticas do pintor António Dacosta.
Além da Estação, existe a Sul um novo terminal Fluvial do Cais do Sodré da
Soflusa com ligação de Barcos entre Lisboa e a outra margem do Tejo.
Largo do Rossio
Em Tempos pré-históricos o vale do Tejo hoje ocupado pelo Rossio e Praça da Figueira foi um esteiro do Tejo onde desaguavam as ribeiras hoje designadas por Ribeira de S.Antão e Arroios.
durante o domínio romano o esteiro estaria já parcialmente assoreado de dimensões mais reduzidas, prova de tal facto os vestígios de um cais encontrado junto á Igreja de S. Domingos, com as obras do metropolitano nesta zona foi possível encontrar uma Necrópole assim como um circo romano.
Com a conquista de Lisboa aos Mouros varias casas religiosas foram-se instalando na cidade surgindo no Rossio em 1492 o Convento de S. Domingos que juntamente com o Hospital de todos os Santos e o Palácio dos Estaus constituíam o conjunto principal de edifícios desta zona.
O Rossio era tal como hoje o largo, o espaço aberto de vivência pública onde muita História e histórias se desenrolaram...
era neste espaço que às 3ªs feiras se fazia a feira onde os Lisboetas, soldados, tripulantes e viajantes das naus, vinham abastecer-se.
Foi o grande palco dos Autos de Fé, sendo que este macabro espectáculo desenrolava-se no adro da Igreja de S. Domingos e no Hospital de todos os Santos, onde as janelas com melhor vista eram alugadas a peso de ouro.
Foi pelo Rossio que um elefante guardado no Palácio dos Estaus, por ordem de D. Manuel, para uma luta com um rinoceronte vindo da Índia, ( o tal que tão bem vimos representado na Expo 98), fugio matando e levando tudo o que lhe surgia pela frente.
Rossio, largo de festas de touros, de espectáculos, das brigas, como aquela que levou Luís Vaz de Camões para a prisão e mais tarde para a Índia por naquele local ter agredido um oficial do reino.
Estação do Rossio
A deslumbrante fachada neo-manuelina da Estação do Rossio é uma excepcional
obra de arquitectura desenhada por José Luís Monteiro. Oito portadas em ferro
forjado vermelhas combinam com as nove janelas de ferradura e a torre de relógio
trabalhada localizada no topo central da fachada. Inaugurada em 1890, a recente
renovação levada a cabo pelos arquitectos Broadway Malyan permite aos
passageiros do comboio fazer ligação à estação de metro dos Restauradores.
A estação traz passageiros vindos de Sintra sendo os últimos 2,6 km um túnel
que foi considerado uma das mais importantes obras de engenharia do século XIX.
A estação é fora do vulgar porque as plataformas estão 30m acima da entrada e
são acedidas por escadas rolantes. O comboio suburbano vai até a vila turística
de Sintra via Queluz. Saem da estação vários comboios por hora em direcção a
Sintra numa viagem que demora menos de uma hora.
Cine-Teatro Eden
Edifício inaugurado em 1937, de planta rectangular e de acentuada horizontalidade. A fachada com um dinâmico jogo de volumes desenvolve-se simetricamente a um corpo central, com uma verticalidade de linhas contrabalançada por duas bandas horizontais, uma das quais com um conjunto de baixos relevos. Em 1995 o edifício foi remodelado e adaptado às suas novas funções.
Monumento dos Restauradores
Na praça dos Restauradores nasce a primeira artéria lisboeta - a Avenida da Liberdade. A praça deve o seu nome e é dedicada aos homens que em 1640, restauraram a independência portuguesa, pondo termo ao domínio Filipino em Portugal. Este monumento consagra a Revolução de 1640, é da autoria de António Tomás da Fonseca, na escultura e de Sérgio Augusto de Barros, pelo grupo arquitectónico e foi inaugurado a 28 de Abril de 1886. Obelisco com cerca de 30 metros de altura, que tem na sua base, duas estátuas em bronze, a simular movimento: o génio da independência (do escultor Alberto Nunes) e, na face norte, o génio da Vitória( da autoria de Simões de Almeida). Nas faces do pedestal estão gravados os nomes e datas das principais batalhas da Restauração:Linhas de Elvas (1659), Ameixial (1663), Castelo Rodrigo (1664), Montes Claros (1665).
Av. da Liberdade
Depois do Terramoto de 1755 o Marquês de Pombal criou o Passeio Público
na área ocupada pela parte inferior da Avenida da Liberdade e Praça dos
Restauradores. Apesar do nome, era rodeado por muros e portões por onde só
passavam os membros da alta sociedade. Em 1821, quando os Liberais subiram ao
poder, os muros foram derrubados e o Passeio foi aberto a
todos.
A
Avenida que hoje se pode ver foi construída em 1879-82 no estilo dos Campos
Elísios em Paris. A grande avenida arborizada tornou-se num centro de cortejos,
festividades e manifestações. Inclui um monumento aos que morreram na Primeira
Guerra Mundial. A Avenida ainda conserva a sua elegância, com fontes e
esplanadas magníficas sob as árvores. Majestosa, com 90 metros de largura e
pavimentos decorados com padrões abstractos, está agora dividida por dez faixas
de trânsito que ligam os Restauradores à Praça do Marquês de Pombal, para o
Norte.
Esta avenida é repleta de hotéis (muitos deles de luxo), lojas e alguns
dos melhores cafés, teatros, universidades. Esta é uma das mais (se não a mais)
importantes avenidas de Lisboa e é também o ponto de eleição de escritórios,
árvores centenárias, lojas de moda internacional e milhares e milhares de
trabalhadores que por ali passam todos os dias.
Há
também as antigas lojas de alfaiates, seguidas de marcas internacionalmente
conhecidas como Louis Vuitton, Calvin Klein, Timberland, Massimo Dutti, Armani,
Burberry, Adolfo Dominguez, lojas que vendem Prada, Christian Dior, Chanel,
Dolce & Gabbana, Versace, etc. Caminhar na Avenida da Liberdade foi, em
tempos, sinónimo de elegância e ainda hoje o é.
Algumas das mansões originais foram preservadas, incluindo o neoclássico
cinema Tivoli, com um quiosque dos anos 20 no exterior, infelizmente muitas das
fachadas no estilo Arte Nova deram lugar a edifícios ocupados por escritórios,
hotéis ou complexos comerciais.
Cinema São Jorge
Desenhado por Fernando Silva, o Cinema São Jorge recebeu o Prémio Municipal. é o mais emblemático cinema de Lisboa e a sua construção trouxe várias inovações tecnológicas para a data como o ar condicionado e o sistema de aspirador central. Foi também a maior sala de cinema do país com 2000 lugares.
Sofreu várias obras de conservação e adaptação ás novas necessidades tendo, em 2000, a CML exercido o direito de compra do edifício.
Decorrem, nos dias de hoje, no São Jorge vários festivais de cinema, concertos, espetáculos de teatro e dança.
Sofreu várias obras de conservação e adaptação ás novas necessidades tendo, em 2000, a CML exercido o direito de compra do edifício.
Decorrem, nos dias de hoje, no São Jorge vários festivais de cinema, concertos, espetáculos de teatro e dança.
Estátua do Marquês de Pombal - Largo Marquês de Pombal Lisboa
Ao fundo do Parque Eduardo VII encontrará a Praça Marquês de Pombal ou Rotunda.
É o principal cruzamento do sistema de metro de Lisboa e um dos pontos mais
agitados em termos de trânsito e de peões. Ao centro tem uma estátua de nove
metros do Marquês de Pombal a segurar num leão em cima dum pedestal de 34 metros
comemorando a reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755. O pedestal tem
nele representado cenas da reconstrução e até do próprio terramoto e do tsunami
que o seguiu. Após o desastre o Marquês respondeu a perguntas sobre o que é que
iria ser feito com a famosa frase: ”Enterramos os mortos e alimentamos os
vivos”. Apesar da calamidade Lisboa não sofreu epidemias de maior e dentro de um
ano a cidade estava já a ser reconstruída no clássico estilo pombalino que hoje
caracteriza a baixa de Lisboa. Encontrará muitos dos hotéis de topo da cidade a
um passo da rotunda.
Edificio da Sede da Liberty Seguros
Na Av. Fontes
Pereira de Melo, os consagrados criadores “Os Gémeos” (Brasil), Blu (Itália) e
Sam3 (Espanha), realizam em dois edifícios devolutos, intervenções de arte
urbana de grande escala, obras integradas na programação artística do projecto
CRONO, evento promovido pela ACA- Azáfama Citadina Associação, em parceria com
a Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa. Os autores brasileiros
foram ainda acompanhados por um conjunto de writers portugueses, entre eles
NOMEN, SEN, RISCO, ARM, KREYZ, HIUM, MAR, GLAM, SLAP, Maria Imaginário, SMILE
para a criação de um vasto wall of fame, no muro localizado na Rua José
Gomes Ferreira, junto às Amoreiras.
Edificio da Sede da Metro de Lisboa
O imóvel Sede Social do Metropolitano de Lisboa, sito na Av.
Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, foi projetado pelo Arquiteto Norte Júnior
para um rico capitalista com fortuna do Brasil, de nome José Maria Moreira
Marques.
Popularmente alcunhado como “bolo de noiva” pela sua
decoração exuberante, recebeu o Prémio
Valmor de 1914.
Em 1950, o edifício foi vendido à Câmara Municipal de Lisboa
pelos descendentes do seu proprietário tendo sido arrendado, em 1954, ao
Metropolitano de Lisboa que transferiu a sua Sede Social para essas instalações
em finais desse ano, tendo adquirido em 1999 a propriedade do imóvel.
Ao longo dos anos, o edifício tem sido considerado um notável “museu” das artes
decorativas do início do século. O seu exterior, ostenta
elementos de inspiração clássica, neo-clássica e arte nova, como é o caso das
portas, janelas e marquises.
Todo o seu interior foi alvo de uma notável distribuição
divisionária. Na cave localizavam-se a cozinha e a despensa, os alojamentos dos
empregados e, onde atualmente se encontra a Biblioteca, existia um ginásio
destinado às crianças.
No rés do chão situavam-se os salões principais e sociais, como
a Sala de Música, a Sala de Fumo e o Salão Nobre, hoje utilizada como sala de
reuniões, onde se destaca a beleza da tela que representa Vénus no Olimpo.
No 1º andar encontravam-se os quartos de dormir, a sala das
crianças uma sala de banho e toiletes. O edifício possui, ainda, um elevador de
origem, de fabricação alemã e que se encontra em pleno funcionamento.
Decorado com madeiras raras e de primeira qualidade provenientes
do Brasil, gessos pintados a folha de ouro, aguarelas e frescos já muito
apreciados naquela época, o palacete foi, desde sempre, considerado como um
imóvel de uma enorme e invulgar riqueza.
O edifício Sede Social do Metropolitano de Lisboa, incluindo as
áreas do antigo jardim, anexo residencial e garagem, foi classificado como Imóvel de Interesse
Público em 2002.
Ao longo destes 52 anos, a empresa tem realizado diversas obras
de conservação e beneficiação, incluindo a restauração das pinturas na sua
traça original, que em muito contribuíram para a preservação deste património à
sua guarda, cujo valor cultural e interesse público vieram a ser reconhecidos
pela classificação efetuada.
Edifício da Maternidade Alfredo da Costa "A Minha Terra"
A Maternidade Alfredo da Costa é um estabelecimento público de saúde
especializado em obstetrícia. Foi edificado sobre os alicerces de um templo, com
projecto do arquitecto Miguel Terra, e inaugurado a 5 de Dezembro de 1032. A
primeira maternidade em Lisboa a ser construída de raiz. Se nasceu em Lisboa, há
a grande possibilidade de fazer parte das 500 mil pessoas, sendo eu uma delas,
que nasceram na Maternidade Alfredo da Costa, a maior do país. Com os ventos
políticos e económicos agrestes em Portugal, o Governo está a realizar vários
estudos para decidir quando fecha a Maternidade Alfredo da Costa (MAC).
Edifíco Monumental
A elaboração
do projecto para o maior conjunto de cinema-teatro existente em Lisboa, partiu
de um Despacho do Ministro da Educação Nacional de 24 de Março de 1943, onde se
podia ler: "(...) podia considerar-se o eventual
funcionamento de uma Casa de Espactáculos como ainda não há em Lisboa, com um
conjunto de instalações adequadas á realização ou exibição simultânea de várias
formas de actividade artística ou cultural (...) uma casa com salas
independentes para teatro de declamação ou música ligeira, concertos e cinema,
dotada das dependências correspondentes.”
Com base
nesta sugestão, o arquitecto Rodrigues Lima, - um dos arquitectos
intervenientes na Exposição do Mundo Português de 1940, e que já tinha assinado
o projecto do “Cinema Cinearte”, inaugurado em Fevereiro de 1940 - elabora o projecto do Monumental,
cinema e teatro, onde, num único edifício existe um teatro para 1182
espectadores, um cinema para 2170, um café-restaurante e uma sala para
exposições artísticas.
O
Monumental, na Praça Duque de Saldanha em Lisboa, foi inaugurado no dia 14 de
Novembro de 1951. Completaria no ano passado 60 anos
A entrada
principal do edifício, comum a todos os espectadores, fazia-se pelo grande
vestíbulo principal semi-exterior que, comunicando directamente com a Praça
Duque de Saldanha por meio de uma arcaria de volta perfeita, funciona quase
como um prolongamento desta. A sala de teatro, com eixo central paralelo à Av.
Praia da Vitória, possuía dimensões mais reduzidas de modo a aproximar os
espectadores do palco. Deste modo, e por forma a rentabilizar melhor o espaço
interno, o arquitecto introduz três balcões que se prolongam lateralmente até
ao palco e ainda dois camarotes “avant-scène” ricamente decorados.
A sala de
cinema, com eixo central paralelo à Av. Fontes Pereira de Melo, possui grandes
dimensões permitidas pelo grande ecrã existente e pelos altifalantes que
permitem regular o som de acordo com as dimensões da sala. Comportando dois
balcões, esta sala constituía a «referência mais imensa do
espaço-cinema em Portugal : a sala cheia parecia uma cidade!»
A revista “Imagem”
em 1950 escrevia: «Um dos mais arrojados empreendimentos dos nossos
dias». Podia-se
também ler num jornal da época: «Único no seu género em
todo o mundo, um luxuoso edifício que, desde as linhas arquitectónicas do
exterior á luxuosa comodidade dos seus interiores, oferece o tom moderno e de
bom gosto da casa de espectáculos digna de figurara entre as melhores da
Europa».
No seu interior,
havia um gigantesco foyer, muito à Hollywood, com mármore,
dourados e lustres.
Adivinhando
as necessidades futuras, esta sala viria a acolher todas as novidades a nível
de ecrãs de cinema: ecrã gigante, “Cinemascope”.
No topo do
edifício funcionava um atelier onde se faziam cartazes dos filmes que, mais
tarde, parte do interior foi adaptado para uma pequena sala-estúdio, o “Satélite”.
Esta sala-estúdio foi inaugurada em 1970 com o filme “Coisas da Vida” ( ‘Les
Choses de la Vie’ ) com Romy Schneider e Michel Piccoli.
Por fora, o
Monumental era de pedra, com colunas, estátuas decorativas e esferas armilares
de ferro que estão, hoje em dia, junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém.
Na lateral da Avenida Fontes Pereira de Melo albergou o famoso café restaurante
“Monumental”. Outro cinema famoso de Lisboa o “Império” ,que
viria a ser inaugurado em 1952, teria também a exemplo deste, um grande café
restaurante de seu nome “Império”, felizmente ainda existente.
Antes de
morrer o arquitecto Raúl Rodrigues Lima traçou um projecto que visava a
completa remodelação do conjunto Monumental, de acordo com os novos tempos e os
novo hábitos do público de cinema. A grande sala dividida em pequenas salas e a
entrada aproveitada para várias lojas tornariam decerto o cinema rentável. Mas
de nada valeu o seu esforço, pois não estava em questão salvar um espaço, mas
sim de arranjar uma justificação para vender e rentabilizar o espaço ocupado
pelo Monumental.
Depois de
ter encerrado em 1983, devido ao facto das receitas não cobrirem as despesas,
por falta de público, a ordem da demolição surgiu em 1984. No mesmo local
ergue-se hoje um moderno edifício, também chamado Monumental, com escritórios,
lojas e quatro salas de cinema, a maior das quais com 378 lugares.
Estátua do Marechal Duque de Saldanha
Em
13 de Agosto de 1889 foi promulgada a lei que estatuía que fosse erecto um
monumento ao prestigioso oficial, “para recordar aos vindouros os seus
relevantes serviços à pátria e à liberdade”. Influiu na Câmara dos
Pares para que se rendesse esta homenagem, D. Luís da Câmara Leme, antigo
ajudante de campo do marechal. Abriu-se um concurso para esse fim, mas ficou sem
efeito. No ano seguinte houve novo concurso, em que ficou aprovado o projecto
apresentado pelo escultor Sr. Tomás Costa. O contrato com o governo assinou-se
em 1901, sendo o local escolhido para a colocação do monumento a rotunda das
Picoas, devendo estar concluído dentro de três anos. Os trabalhos começaram,
sendo o arquitecto Sr. Ventura Terra auxiliar do autor do monumento. Em 5 de
Novembro de 1901 procedeu-se à cerimonia solene do lançamento da pedra
fundamental, cerimónia a que assistiu o rei D. Carlos, o ministério, o bisneto
do marechal, João Carlos de Saldanha Oliveira Daun, actual representante da
casa, e diferentes individualidades de categoria superior, quer do mundo
oficial, quer da sociedade propriamente dita. Estando concluídos os trabalhos,
tratou-se da inauguração, que se realizou a 18 de Fevereiro de 1909 com
imponente solenidade, e com todo o aparato oficial destas cerimónias. Na praça,
onde se levantou o monumento, e que tomou o título de Praça do Duque de
Saldanha, armou-se um pavimento luxuosamente decorado para a recepção do rei
D. Manuel e leitura dos discursos e do auto, que foi ali assinado. Ao lados
deste pavilhão armaram-se tribunas para o corpo diplomático, deputações das
casas do parlamento, Câmara Municipal e mais convidados. Os representantes da
família do duque de Saldanha tinham lugar reservado no pavilhão real; eram a
Sr.ª marquesa de Rio Maior, condessas de Almoster, de Sintra e da Azinhaga, os
Srs. marquês de Pombal, João Carlos Saldanha de Oliveira e Daun e seus irmãos
José Augusto, Joaquim Pedro Quintela e Luís Saldanha de Oliveira Daun.
Compareceram também à inauguração alguns veteranos da companhia de reformados de
Runa, contando se entre eles, velhos que acompanharam Saldanha nas acções de
Torres Vedras, do Porto, e na última manifestação militar do marechal, de 19 de
Maio de 1870. Ao descerramento da estatua pelo rei, e quando a bandeira
portuguesa que a velava, se desprendeu, os alunos da Escola Naval e da do
Exército, que faziam a guarda de honra junto ao pavilhão real, perfilaram as
espadas, fazendo então o rei a continência, enquanto as bandas militares tocavam
o hino de Saldanha. Seguiu-se o discurso do Sr. conselheiro António de Azevedo
Castelo Branco, presidente da comissão executiva do monumento, a que o rei
respondeu, sendo depois lido pelo secretário da comissão, general
Sr. Agostinho Maria Cardoso, o auto da entregado monumento à Câmara Municipal. A
cerimónia terminou pelo desfilar das tropas da guarnição do Lisboa, que tinham
formado em parada desde a Praça do Duque de Saldanha até ao Campo Grande. O rei
com o infante D. Afonso, general Craveiro Lopes à esquerda e seu estado-maior,
passou em continência à estatua, e a seguir marcharam as forças militares,
principiando pela dos marinheiros, ao som do hino de Saldanha, tocado pelas
bandas. Era o mesmo hino que se ouvira, quando o marechal entrou triunfante em
Lisboa a 13 de Maio de 1851.
O
monumento compõe se dum pedestal dórico de base quadrangular, a cujas arestas
aderem colunas da mesma ordem, encimadas de capiteis canelados, desenho do Sr.
Ventura Terra. Concluíra-se em 3 de Junho de 1905; tem de altura 7,82m
que junto à estátua de 3,18m,
dá o total de 11 m. A severidade do pedestal ameniza-se um tanto com a figura
alegórica da Vitória que lhe decora a face principal; sob esta figura vêem-se as
armas portuguesas entre ramos de louro e carvalho, e nas outras faces do
pedestal destacam se cabeças de leões sustendo da boca panóplias decorativas com
a inscrição: Campanhas da Liberdade, etc. Tanto estas decorações como as
estátuas, tudo em bronze, foram fundidas no Arsenal do Exército com a perfeição
de outros trabalhos deste género ali feitos várias vezes. A estátua de Saldanha
ficou acabada em 15 de Setembro de 1906, e tem o peso de 2:.54 kg. Pousa sobre
um soco assente no entablamento do pedestal. De pé, a mão direita indicando um
ponto do horizonte, na mão esquerda a espada. No braço esquerdo um manto tragado
garbosamente. A estátua alegórica da Vitória tem o peso de 1.920 kg; empunha na
mão direita a espada vencedora e na esquerda a palma gloriosa. Nesta face do
pedestal, na parte superior está a seguinte inscrição: Ao marechal duque de Saldanha,
1909.
Edificios de Escritórios que sofreram remodelações de Fundo
Edifício que se destaca pela sua verticalidade. Com planta rectangular, rés de chão e 5 pisos e com telhado a 2 águas. Teve como construtor José Tomaz de Sousa
Edificio Atrium Saldanha
Situado na Praga Duque de
Saldanha, 1, Avenida Casai Ribeiro, 63, Rua Fernão Lopes, 4, Rua Engenheiro
Vieira da Silva, 18, e Avenida Fontes Pereira de Melo, 44, um projecto dos
arquitectos João Paciência e Ricardo Bofill para IMOSAL, SA..
O estudo geométrico, proporção e equilíbrio proporciona, quer numa organização da planta quer nos alçados, criação «inevitável de um grande vazio interior que viria a definir-se sob a forma de um grande semicírculo..), envolvido em altura par plateias virtuais múltiplas e troneo-cónicas, dramatizando deste forma o efeito etnográfico pretendido».
O átrio tem assim, no «elemento gerador fundamental de toda a espacialidade interior do objecto "arquitectónico", conferindo-Ihe toda a sua singularidade.A estabilidade e equilíbrio do edifício são conseguidos através de marcação «das esquinas do quarteirão com um desenho mais fechado e materiais vivamente mais pesados», o que confere uma definição das «balizas dos diferentes troços e da praça» que o delimitam.
A marcação de linhas horizontais de dois em dois pisos «entaladas entre os torreões das esquinas estabiliza a fachada e conferem sentido à forma geral». in revista Imobiliária
Foram atribuídos, para o ano de 2002, dois Prémios Valmor e Municipal de Arquitectura e uma Menção Honrosa.
O estudo geométrico, proporção e equilíbrio proporciona, quer numa organização da planta quer nos alçados, criação «inevitável de um grande vazio interior que viria a definir-se sob a forma de um grande semicírculo..), envolvido em altura par plateias virtuais múltiplas e troneo-cónicas, dramatizando deste forma o efeito etnográfico pretendido».
O átrio tem assim, no «elemento gerador fundamental de toda a espacialidade interior do objecto "arquitectónico", conferindo-Ihe toda a sua singularidade.A estabilidade e equilíbrio do edifício são conseguidos através de marcação «das esquinas do quarteirão com um desenho mais fechado e materiais vivamente mais pesados», o que confere uma definição das «balizas dos diferentes troços e da praça» que o delimitam.
A marcação de linhas horizontais de dois em dois pisos «entaladas entre os torreões das esquinas estabiliza a fachada e conferem sentido à forma geral». in revista Imobiliária
Foram atribuídos, para o ano de 2002, dois Prémios Valmor e Municipal de Arquitectura e uma Menção Honrosa.
“CRONO” é uma
iniciativa de natureza artística e social, a decorrer ao longo de 12 meses, em
quatro ciclos inspirados na ambiência das estações do ano, com um plano de
actividades diversificado que contempla a participação de 16 conceituados
autores internacionais a par de um número significativo de prestigiados
criadores portugueses, corporizando-se em acções de desenvolvimento relacional
entre os cidadãos e a sua cidade, não só na criação de um roteiro único de arte
pública, aqui percepcionada sob um renovado conceito, mas também na
revitalização artística de «áreas esteticamente deprimidas», nas palavras dos
seus mentores, que colocará a capital portuguesa e o País, no mais prestigiado
panorama da arte urbana.
Projecto de
“curadoria urbana”, este evento pioneiro lança desafios relevantes para o
reposicionamento da Arte em relação ao desenvolvimento da Cultura, revelando
Lisboa sob novas perspectivas ao inscrever na paisagem urbana, léxicos visuais
de grande valor artístico, interpeladores da percepção dos transeuntes, dos
habitantes, dos artistas.
A
parceria com a ACA, no âmbito desta iniciativa, resulta de uma estratégia de
actuação delineada pela Galeria de Arte Urbana, espaço de liberdade criativa
dedicado pela Câmara Municipal de Lisboa ao graffiti e à street art enquanto
expressões de arte urbana, confirmando-as como reconhecíveis e reconhecidas
gramáticas artísticas. A Galeria posiciona-se como um lugar aberto e inclusivo
perante o universo de criadores, perante a comunidade envolvente, perante os
diferentes públicos a sensibilizar para o reconhecimento da riqueza e da
diversidade do património artístico e cultural da cidade.
Av. Fontes Pereira de Melo
Marquês de Pombal
Célebre ministro do rei D.
José I, o mais notável estadista do seu tempo, não só de Portugal, como de toda
a Europa.
N. em
Lisboa a 13 de Maio de 1699, sendo baptizado a 6 de Junho do mesmo ano na
freguesia das Mercês, então instalada na capela da mesma invocação existente na
rua Formosa, a qual pertencia a sua família; fal. em Pombal a 8 de Maio de 1782.
Era filho do capitão de cavalaria e fidalgo da Casa Real, Manuel de Carvalho e
Ataíde (V. Portugal, vol. I, pág. 846), e de sua mulher D. Teresa Luísa
de Mendonça e Melo, filha de João de Almeida e Melo, senhor dos morgados dos
Olivais e de Souto do Rei.
Frequentou na Universidade de
Coimbra o primeiro ano jurídico, mas dotado dum génio versátil e dum insaciável
desejo de dominar e de não ser dominado, abandonou estudos, resolvendo-se a
seguir a carreira das armas, por julgar ser essa a sua vocação, e foi assentar
praça de cadete. Vendo, porém, que no serviço militar a obediência era mais
exigida que em Coimbra, pediu a demissão, e entregou-se à vida ociosa, dedicando
‑se contudo ao estudo da história, da política e da legislação. Alguns biógrafos
dizem que estas informações não se baseiam em factos irrecusáveis, mas o que não
oferece dúvida é que Sebastião de Carvalho, na sua
mocidade figurou no grupo dos capotes brancos um daqueles bandos de fidalgos
aventureiros que perturbavam com as suas orgias a tranquilidade da capital.
Enérgico, decidido, brioso, de figura simpática, era bem visto pelas damas, e
por ele se apaixonou uma sobrinha do conde dos Arcos, D. Teresa de Noronha e
Bourbon, dama da rainha D. Maria Ana de Áustria, filha de D. Bernardo de
Noronha, e de sua mulher, D. Maria Antónia de Almada. Esta senhora nasceu em
1689, casou a 17 de Julho de 1714 com seu primo António de Mendonça Furtado, de
quem enviuvou em Fevereiro de 1718, e casou em segundas núpcias, a 16 de Janeiro
de 1723, aos 34 anos, com Sebastião de Carvalho. Os novos esposos foram viver
para uma quinta que o futuro conde de Oeiras e marquês de Pombal possuía em
Soure, e ali continuou com interesse os seus estudos de história, de política e
de legislação. Um seu tio, o arcipreste Paulo de Carvalho, o apresentou ao
cardeal Mota, ministro e valido do rei D. João V, e pela influência deste
prelado, foi nomeado em 1733 sócio da Academia Real de História Portuguesa, que
fora fundada em 1720, tendo pouco depois a incumbência de escrever a história de
alguns dos monarcas portugueses, que nunca satisfez.
Em
1739 foi enviado a Londres como ministro plenipotenciário, e ali prestou
relevantes serviços, mostrando grande energia e não vulgar inteligência,
arrancando sobretudo ao ministério do duque de Newcastle muitas das isenções
para os negociantes portugueses em Londres, que tinham em Lisboa os negociantes
ingleses, e o reconhecimento do direito que tinham as autoridades portuguesas de
punir os excessos praticados pelos capitães de navios ingleses em terras e
costas de Portugal. Sebastião de Carvalho sofreu em Inglaterra o grande desgosto
da morte de sua mulher, que faleceu em 27 de Março desse ano, legando-lhe todos
os bens da sua grande casa. Durante o tempo que esteve em Londres, apesar das
instituições inglesas lhe não terem causado grande influência, o que não pensou
em implantarem Portugal, no entretanto, naquele grande centro civilizador
entregou-se ao estudo de todas as graves questões administrativas. O rei D. João
V ordenou-lhe, que reunisse em Inglaterra uma colecção de bíblias hebraicas, e
de tudo quanto pertencesse a seus ritos, leis, costumes e policia, em qualquer
das línguas vivas. Aquela preciosa colecção chegou a Lisboa no ano de 1743, e
foi para a biblioteca do palácio real. O modo hábil como Sebastião de Carvalho
dirigiu em Londres as negociações de que fora encarregado, chamou para ele a
atenção do governo português, e, quando rebentou entre as cortes de Viena de
Áustria e de Roma uma discórdia relativa aos direitos de
nomina da cúria, tendo sido o governo português eleito para medianeiro,
foi Sebastião José de Carvalho nomeado para dirigir as negociações da corte de
Viena, para onde se dirigiu em 1715. Foi bastante feliz nesta nova ocupação, e
conseguiu sanar a discórdia e lançar as bases do tratado entre as duas coroas,
assim como depois conseguiu apaziguar novas dissensões entre o imperador
Francisco I e o papa Bento XIV, por este não querer confirmar na pessoa do
arcebispo eleitor de Mogúncia uma multidão de benefícios, que o imperador lhe
concedia. Em Viena enamorou-se duma senhora da corte, D. Leonor Ernestina Eva
Wolfanga Josefa, condessa de Daun, filha de Henrique Ricardo Lourenço,
Feld-marechal general, conde de Daun do Sacro Romano Império, e de sua
mulher, D. Violante Josefa, condessa de Bromond, em Bayersberg. O conde de Daun
foi adversário muitas vezes vitorioso de Frederico o Grande da Prússia.
Estas nobres famílias tiveram dúvidas em consentir no casamento, mas
mandando-lhe dizer a arquiduquesa rainha de Portugal, D. Maria Ana de Áustria,
que Sebastião José de Carvalho era de nobre ascendência, acederam ao casamento,
o qual se realizou em 18 de Dezembro de 1745. Pouco tempo se demorou em Viena,
porque se não dava bem com o clima, e como o celebre medico Van Swieten, que o
tratava, lhe aconselhasse, que voltasse à pátria, Sebastião de Carvalho pediu e
obteve a sua demissão, e nos últimos anos do reinado de D. João V regressou a
Lisboa.
Em 31 de
Julho de 1750 morreu o monarca, e subindo ao trono seu filho D. José, a rainha
viúva, que se tornara muito amiga da mulher de Sebastião de Carvalho, que fora
nomeada sua dama de honor, instou com o novo soberano para que nomeasse o antigo
embaixador secretario de Estado dos negócios da guerra e estrangeiros. Assim se
fez logo no dia 3 de Agosto, sendo ao mesmo tempo nomeado secretario de Estado
da marinha o ultramar Diogo de Mendonça Côrte-real, filho do antigo e célebre
ministro de D. João V. Com Pedro da Mota, secretário de estado, que o rei D.
José encontrou em exercício, ficou o ministério completo. Havia apenas bem
poucos dias que estava no poder, quando rebentou o terrível incêndio do hospital
de Todos os Santos, a 10 de Agosto do 1750, que serviu logo para manifestar a
energia e desembaraço de Sebastião de Carvalho. Não tardou muito que o antigo
diplomata adquirisse no conselho do rei urna grande influência, que se quis
atribuir a diferentes causas, mas cujo motivo principal estava, segundo as
melhores opiniões, na inteligência superior e na vontade enérgica do futuro
marquês de Pombal, que facilmente subjugou os seus colegas e adquiriu no
ministério a iniciativa e a preponderância. Os homens como ele, podem pelas
circunstâncias ser afastados do poder, mas apenas entram nele, assenhoreiam-se
da direcção suprema pelo direito da sua energia, da sua actividade e do seu
talento. Além disso, nenhum dos outros ministros era capaz de lutar com ele.
Diogo de Mendonça era homem tímido, Pedro da Mota estava velho e cansado,
Sebastião de Carvalho possuía em alto grau a iniciativa e a audácia. Entrava no
ministério com projectos maduramente concebidos e com intenção firme de os
executar, quebrando todos os obstáculos. Era um reformador na mais larga acepção
da palavra. Tinha decidido levantar o seu país à altura da civilização europeia,
não recuando para isso diante de embaraços de espécie alguma. Richelieu era o
seu ideal; como ele, desejava consolidar o régio poder com o fim do introduzir
alterações profundas no regime do Estado. Tinha em muitas coisas as ideias
erróneas do seu tempo, e também preconceitos pessoais, mas possuía ideias
administrativas de grande alcance. Conhecia os abusos do regime existente,
conhecia os vícios da governação, percebeu que um povo, sob pena de se
aniquilar, não podia persistir numa senda oprobriosa, e, não lhe sendo estranho
nenhum dos progressos da sua época, vinha decidido a realizá-los à viva força,
até sendo preciso, desfazendo as resistências, passando por cima das oposições,
rodeando se de terror, e usando largamente do direito repressivo; Carvalho tinha
a consciência, o fanatismo da sua missão reparadora. Fosse qual fosse o motivo,
é certo que não tardou a exercer no gabinete de que fazia parte, uma influência
exclusiva. A primeira medida que tomou, revelou logo a sua índole enérgica, mas
também mostrou que o seu génio não poderia contudo rasar horizontes novos em
economia politica e eximir-se às preocupações erróneas do seu tempo.
Considerando como uma grande desgraça para Portugal a dependência em que estava
da Inglaterra, e o tributo que lhe pagava todos os anos em somas enormes em
trocados artefactos que de lá recebia, entendeu que o modo mais simples de
acabar com essa dependência, era proibir debaixo de penas severas a exportação
de metais preciosos, querendo assim restabelecer arbitrariamente a balança de
comércio, exigindo que os ingleses levassem de Portugal mercadorias
correspondentes no preço aquelas que nos enviavam. O grande ministro partilhava
as ideias erradas do seu tempo, e supunha, como quase todos os estadistas do
século XVIII, que a riqueza de uma nação consistia essencialmente no instrumento
circulante que apenas a representa. Desde o momento que a produção agrícola e
industrial do país não era suficiente para o seu consumo, a moeda havia de sair
forçosamente, fossem quais fossem os meios que Sebastião do Carvalho empregasse
para a reter em Portugal. Os metais preciosos são mercadorias como outras
quaisquer sujeitas às leis económicas da oferta e da procura. Ainda que
Sebastião de Carvalho conseguisse cativá-los em Portugal, não fazia mais do que
depreciá-los, fazendo subir de novo a preços enormíssimos os objectos mais
necessários à vida. Sucederia isso em Portugal, se o contrabando não viesse
restabelecer o equilíbrio que Sebastião de Carvalho destruía. Afinal teve de
revogar a medida, substituindo a proibição por um imposto de 3 % que finalmente
foi também abolido. Mas enquanto a medida esteve em vigor, serviu para revelar a
inquebrantável energia do grande ministro. A Inglaterra mandou de propósito a
Lisboa um embaixador, lorde TyrawIey, que protestou contra essa providência.
Sebastião de Carvalho manteve-a; uns oficiais da marinha de guerra inglesa que
levavam para bordo ouro amoedado foram presos. E entretanto continuava o
ministro a pôr em pratica o seu vasto plano de reformas, que tinha em
alguns pontos
graves defeitos, mas que tinha a vantagem de ser perfeitamente sistemático. A 17
de Janeiro de 1751 reduzia os direitos sobre o tabaco e simplificava a sua
cobrança; a 27 desse mês fazia o mesmo ao açúcar. Depois proclamava e tornava
efectiva a emancipação dos índios do Brasil, medida verdadeiramente generosa e
grande; fundava depois a companhia privilegiada do comércio do Grão‑Pará e
Maranhão, que levantava resistências e protestos que ele quebrava com a energia
selvagem, própria do seu carácter. A Mesa do Bem Comum peticionou contra o
decreto que fundava a companhia, os seus membros foram logo punidos com penas
severíssimas. Outra medida igualmente pouco acertada foi a concessão do comércio
da Índia e da China a Feliciano Velho Oldemberg; mas ao mesmo tempo mantinha a
ordem em Lisboa, que no reinado antecedente fora teatro das mais escandalosas
brigas, e fortalecia com sensatos regulamentos a disciplina do exército.
Tratava
de fazer a luz nesta caótica administração portuguesa, quando um cataclismo
terrível, o terramoto de 1 de Novembro de 1755, veio converter Lisboa num montão
de ruínas e dar ensejo a Sebastião de Carvalho para mostrar o seu génio
organizador e a sua assombrosa energia. Em presença do terrível desastre,
encontrou-se completamente à altura das circunstâncias. Proveu logo à
sustentação dos muitos infelizes que tinham ficado reduzidos à miséria pelo
terramoto, ao estabelecimento da ordem, não lhe esqueceu enfim uma só das
indispensáveis providências. Logo no dia seguinte ao da terrível catástrofe,
tratou da reedificação de Lisboa com um plano muito mais vasto e muito mais
regular do que o da antiga cidade. A planta da nova construção foi traçada pelo
arquitecto Eugénio dos Santos. O ministro mandou demarcar o terreno a cada
proprietário, obrigando estes a levantarem as suas casas dentro de certo prazo,
sob pena de o perderem. Tiveram também de se sujeitar ao plano do arquitecto, de
que resultou a regularidade da cidade baixa. Nas suas ruas agrupou os diferentes
mercadores, tomando elas os nomes das profissões diversas que ali se
enfileiravam. Prosseguiu com uma rapidez maravilhosa a reconstrução da cidade, o
que muito espantou o embaixador da França, que não acreditava em semelhante
milagre, e que dissera para a sua corte, que não poderia Carvalho completar a
obra que empreendera. Urna das medidas mais proveitosas que o grande ministro
adoptou, foi a criação o dum imposto de 4 % sobre todas as mercadorias que
entravam na capital, que era um verdadeiro imposto de consumo, e que rendeu
somas enormíssimas, tanto que foi com o seu produto que se construíram o arsenal
de marinha e os edifícios das secretarias na praça do Comércio; foi ainda com o
dinheiro adquirido por este meio, que se demoliram os restos dos edifícios
arruinados, e se efectuou a abertura de várias ruas segundo o plano adoptado;
além disso, ainda sobejou dinheiro para se construir o arsenal do exército, para
se levantar o forte de Lippe em Elvas, que custou uns poucos de milhões, e para
se repararem e fortificarem muitas outras praças do reino. O terramoto de 1 de
Novembro de 1755 foi a verdadeira origem do grande poder de Sebastião de
Carvalho. A sua energia produzira uma impressão profundíssima no rei D. José, que
desde então começou a dispensar-lhe uma cega confiança, que a rápida
popularidade que adquiriu, ainda mais confirmava, não bastando a
contrabalançarem-na os ódios e as invejas da nobreza, que se não ocultavam nem
disfarçavam. Ainda nos primeiros meses que se seguiram ao grande cataclismo,
continuou em Lisboa a rapina em elevado grau, mas Sebastião de Carvalho mandou
levantar forcas bem altas, onde expôs mais de 100 cadáveres, o que parece ter
produzido o mais salutar efeito. O rei começou daí por diante a seguir em tudo
os ditames do seu ministro. Para lhe obedecer, deu o exemplo de andar vestido de
briche nacional; em 1756 fez passar Sebastião de Carvalho para a secretaria do
reino, vaga pela morte de Pedro da Mota, e nomeou para ministro da guerra e dos
estrangeiros D. Luís da Cunha Manuel, que era completamente criação sua.
Descontente não se sabe porque motivo com Diogo de Mendonça Corte‑Real,
Sebastião de Carvalho mandou-o prender, e deu-lhe por sucessor Tomé Joaquim da
Costa Corte‑Real que também pouco tempo depois foi desterrado para Leiria. Ao
mesmo tempo fundava Sebastião de Carvalho a Aula de Comércio, a companhia para a
pesca da baleia nas costas do Brasil, e a companhia para a pesca do atum nas
costas do Algarve. Com pleno acerto andaria, observa um dos seus biógrafos, se
se limitasse à fundação de companhias privilegiadas que viessem fundar uma
indústria nova, mas procedia erradamente quando fundava a companhia privilegiada
do comércio de Pernambuco e Paraíba, e a das vinhas do Alto Douro, que vinham
explorar indústrias que não precisavam do privilegio para medrar. A companhia de
Pernambuco e Parabíba não encontrou grandes resistências porque seguia pelo
caminho do GrãoPará e do Maranhão, mas a companhia do Alto Douro, que vinha
ferir mortalmente o livre comércio do Porto, levantou grandes resistências. A 23
de Fevereiro de 1757 houve no Porto contra a companhia um motim de alguma
gravidade, mas que Sebastião de Carvalho determinou logo considerar como uma
rebelião formal contra a pessoa do rei e os seus fautores como réus do crime de
lesa-majestade. Bem sabia ele que a revolta não tivera a importância que lhe
quis dar, mas convinha-lhe considerá-la assim, em primeiro lugar para ensinar
aos portuenses que não se desatendiam impunemente as suas ordens, em segundo
lugar para que todos ficassem bem cientes de que se considerava tão inviolável
como a pessoa do rei, de que as suas ordens deviam ser tão respeitadas como se
as pronunciasse a própria boca do monarca, e de que ninguém poderia alegar que
se não queixava do rei, mas sim do ministro, porque ele estava acobertado com o
régio manto de D. José, e dizendo sempre el-rei meu amo significava bem
que entendia governar como delegado do poder absoluto e sagrado do soberano.
Nomeou logo uma alçada, de que fazia parte o tristemente célebre desembargador
José Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Melo, e que condenou à pena de morte
21 homens e 9 mulheres, e a várias penas menos duras 155 homens e 33 mulheres. A
pena de morte executou‑se no dia 11 de Outubro em 13 homens e 4 mulheres, porque
os outros conseguiram evadir-se. Este facto é de todas as crueldades do marquês
de Pombal a que maior nódoa lança na sua memória, porque nunca foi tão
desproporcionada a pena ao delito.
Quebrando
assim, pela repressão dos tumultos do Porto, as resistências municipais
dirigidas contra a sua enérgica administração, não pensava Sebastião de Carvalho
senão em reprimir igualmente o orgulho da nobreza, como depois todo se empregou
em despedaçar esse formidável poder organizado debaixo do nome de Companhia de
Jesus. Os fidalgos, impacientes com o seu despotismo, rompendo a luta que ele
estava ansioso por travar, deram-lhe ensejo de os punir, e essa conspiração,
cujo malogro foi a perda da nobreza, também lhe deu depois ensejo para romper as
hostilidades contra os jesuítas. A nobreza, que possuía ainda muitos
privilégios, mostrava-se profundamente hostil a Sebastião de Carvalho, que não
poupava ocasião de os restringir. D. José do Mascarenhas, que herdara a casa e o
título dos duques de Aveiro, pretendera que passassem para ele as comendas
administradas pelos antigos duques. O rei não lho consentira, por instigação de
Sebastião de Carvalho, e daí nascera o ódio fidagal votado ao rei pelo duque de
Aveiro. Apesar de todo o mistério que envolve os factos relativos a este
processo, parece incontestável que o duque de Aveiro teve a ideia de assassinar
o rei, que para isso falou ao seu guarda-roupa Manuel Álvares Ferreira, e que
este combinara o crime com seu irmão e com o seu parente José Policarpo de
Azevedo. O que é incontestável, porém, é que na noite de 13 de Setembro de 1768,
quando o rei recolhia numa carruagem à Ajuda, de uma excursão nocturna e
provavelmente amorosa, recebeu uns tiros entre a Quinta do Meio e a de Cima, e
que só se salvou de morte infalível por uma série de acasos, que fizeram com que
errasse fogo um dos bacamartes e com que o cocheiro e o rei se lembrassem de
voltar para trás em vez ele seguir para o paço. O rei teve, contudo, umas poucas
de feridas, mas todas sem gravidade. Sebastião de Carvalho, prevenido
imediatamente, adivinhou de relance que tinha ali o ensejo favorável para
descarregar um grande golpe na nobreza e talvez também nos jesuítas. Concebeu
logo o seu plano com um sangue frio extraordinário, deu ordem rigorosa para que
se guardasse acerca da ferida do rei o maior segredo, espalhando-se simplesmente
que o rei dera uma queda, e depois de fazer todas as investigações necessárias
com o maior segredo, prendeu três meses depois, no dia 13 de Dezembro, todos os
indiciados no crime, sem lhe escapar senão José Policarpo de Azevedo, e esse
unicamente por não ter tido o marquês conhecimento prévio da sua cumplicidade.
Os indiciados não foram só o duque de Aveiro e os seus criados, foram também
todos os membros da família Távora, contra a qual se não podia alegar a ser a
principal entre as famílias nobres descontentes, e a suposição de que o marquês
Luís Bernardo, cuja mulher fora notoriamente favorita do rei D. José, estaria
por isso gravemente ressentido contra o soberano. O principal crime, porém, ou
antes o crime único dos Távoras, era o serem inimigos declarados de Sebastião de
Carvalho e ser a sua casa o centro da hostilidade contra o grande ministro. Em
todo o caso lá se encontraram no processo indícios que foram reputados
suficientes, e além do duque de Aveiro, dos Alornas, Távoras e Atouguias, foram
também presas umas poucas de senhoras, a duquesa de Aveiro, as duas marquesas de
Távora, a condessa de Atouguia, a marquesa de Alorna e sua filha. Ao mesmo tempo
criou-se uma junta ou tribunal de inconfidência, presidido pelos três ministros
de estado que deviam julgar os acusados. Foi esta a primeira e enormíssima
iniquidade do processo, nomear um tribunal especial, e logo um tribunal assim
presidido pelos secretários de estado, que, ainda que não fossem directamente
interessados, sempre eram os representantes do rei, e por conseguinte juízes
representantes da parte. Esta junta de inconfidência vinha apenas tingir
vagamente com uma fórmula vã de justiça, a revoltante arbitrariedade da sentença
que se proferia. Correu este lúgubre processo envolto no maior segredo, e o
público só conhecia a sequência dele pelas repetidas prisões, que vinham de
quando em quando sobressaltar a população. Os fortes das margens do Tejo
povoava-os Carvalho com os fidalgos mais conspícuos do reino, sem que nunca se
soubesse quais as provas que tinha contra cales e que deviam ser completamente
nulas, pois até contra alguns dos que foram executados não podia haver senão
muito leves e muito vagas presunções. A respeito dos marqueses de Távora, por
exemplo, é certo que não houve no processo senão o depoimento do duque de
Aveiro, arrancado por incríveis torturas, ao passo que os criados do duque nem
nos tormentos confessaram que os Távoras estivessem implicados na conjuração, ao
passo que confessaram a sua culpa e a de seu amo.
Também
contra os jesuítas, é forçoso que se diga,
não se pode formular a mais leve suspeita justificada. Pois sem advogados, sem
julgamento contraditório, baseando-se nas presunções mais vagas e nos argumentos
mais contestáveis, promulgou a Junta da Inconfidência uma sentença em que
condenou à pena última, com incríveis requintes de barbaridade, o duque de
Aveiro, os marqueses de Távora, a marquesa D. Leonor, José Maria de Távora, o
conde de Atouguia, Braz José Romeiro, João Miguel, Manuel Álvares Ferreira e
António Álvares Ferreira. Foi no dia 13 de Janeiro de 1759 que se executou a
horrorosa sentença. Nesta conspiração tão cruelmente punida, procurara o marquês
de Pombal ver por todos os modos se implicava os jesuítas, mas, não conseguindo
encontrar provas suficientes, contentara-se com as probabilidades. Desde o
princípio do seu governo travara com eles uma luta implacável. Os jesuítas eram
a sua grande preocupação, e razão tinha para isso, porque eram um obstáculo
invencível a todos os seus projectos de reforma e de regeneração social.
Dominavam em toda a parte, reinavam nas consciências pelo confessionário, nos
espíritos pela educação, e a educação do povo dirigida por eles era a mais
funesta que podia ser, era a imobilidade perpétua, a condenação à eterna
futilidade e à eterna insignificância. Em todos os países se sentia esta funesta
influência jesuítica, mas em Portugal era mais terrível ainda por causa das
colónias, dominadas completamente pelos jesuítas, principalmente as americanas.
Logo no princípio do seu governo, Sebastião de Carvalho tivera que lutar com
eles. Um tratado entre a Espanha e Portugal cedia ao nosso país o Paraguai que
estava completamente dominado pelos jesuítas, e que resistiu ao nosso domínio.
Foi necessário empreender contra os paraguaios uma campanha em regra dirigida
pelo governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, como para os lados
do Amazonas for necessário que Francisco Xavier de Mendonça, irmão de Sebastião
de Carvalho, tomasse medidas enérgicas para conseguir que se pudesse cumprir o
tratado entre as duas nações da península com relação aos limites
norte‑brasileiros. Irritado sobremaneira com esta resistência, o grande ministro
mandou aos governadores-gerais das colónias que procedessem a um inquérito
acerca dos costumes e dos actos dos jesuítas. O resultado foi deplorável para
aqueles padres. Além de todos os defeitos inerentes ao espírito da regra, havia
também já a decadência profunda, e os vícios introduzidos na ordem pela
relaxação dos costumes. Ora Sebastião de Carvalho não estava unicamente irritado
contra os jesuítas pela resistência que eles faziam às tropas no Paraguai,
estava-o principalmente porque não admitia nos seus sonhos de reformador social
a existência dessa companhia, que pretendia embaraçar o livre desenvolvimento do
espírito humano. A influência dos jesuítas na educação já estava levantando
sérias resistências; os oratorianos apresentavam-se como seus émulos, e Luís
António Verney, escrevendo o Verdadeiro Método de Estudar lançava a luva
aos jesuítas, e era apoiado vivamente nesse princípio de resistência pelo grande
ministro português. Em todos os actos hostis ao governo quisera ele ver sempre a
mão dos jesuítas: na resistência da Mesa do Bem Comum à fundação da companhia do
Grão‑Pará e Maranhão, no motim do Porto, e até no terramoto de Lisboa achara
meio de se queixar deles. Era uma hostilidade surda e implacável a que o grande
ministro lhes votara. Forte com os relatórios dos governadores que mostravam a
profunda corrupção da Companhia, Sebastião de Carvalho obteve em Roma que um
visitador fosse encarregado de proceder a um inquérito e de reformar os abusos.
Bento XIV nomeou para visitador o cardeal patriarca de Lisboa. Sebastião de
Carvalho aproveitou logo o ensejo para conseguir que fossem suspensos do
exercício da confissão e da pregação em todas as dioceses portuguesas, e ao
mesmo tempo expulsou do Paço os confessores jesuítas que ali havia. A ordem
ameaçada assim por tão poderoso inimigo reagiu energicamente, e dirigiu se ao
novo papa Clemente XIII protestando contra o procedimento do cardeal visitador.
Mas Sebastião de Carvalho, prosseguindo implacável no seu plano, e baseando-se
unicamente nos motivos de queixa contra o rei que podiam ter os jesuítas por
causa da expulsão dos confessores e na reconciliação que pouco antes do negócio
dos tiros se realizara entre os jesuítas e o duque de Aveiro que estavam em
relações bastante frias, prendeu uns poucos de jesuítas, teve os colégios e
casas da ordem cercadas de tropas e sequestrou-lhes os bens. Ao mesmo tempo
pediu ao papa licença para mandar processar os jesuítas acusados de cúmplices do
atentado contra o rei. Depois de muitas dificuldades concedeu o papa a licença
pedida, mas rogou ao mesmo tempo ao rei de Portugal que não expulsasse os
jesuítas dos seus domínios, pedido que não impediu que eles fossem expulsos de
Portugal por decreto de 3 de Setembro de 1759, mandando-se logo para Itália pelo
brigue S. Nicolau um carrego de jesuítas. Daí resultaram pendências com a
corte de Roma, o núncio mostrou-se frio e até insolente, e Sebastião de Carvalho
não teve a mais leve hesitação em o mandar sair de Portugal, ao mesmo tempo que
saia de Roma o nosso hábil ministro, primo de Sebastião de Carvalho por
afinidade, chamado Francisco de Almada. A causa única deste procedimento do
conde de Oeiras, título com que fora agraciado por decreto de 15 de Julho de
1759, era a guerra de morte que ele declarara aos jesuítas, e não se imagine,
como alguns historiadores modernos querem fazer supor, que o único motivo que o
impelia era uma paixão mesquinha e o ódio que tinha aos jesuítas. Não, o conde
de Oeiras obedecia às mais altas considerações que lhe ditava a sua inteligência
superior. Na convicção profunda que tinha de que fora a influência jesuítica, e
um espírito de fanatismo e a subserviência dos governos às vontades de Roma que
tinham levado Portugal a um estado de grande decadência, entendeu que não havia
reformas possíveis enquanto o beatério predominasse no país, enquanto
considerações devotas viessem constantemente meter-se em todas as questões
políticas. Esta convicção germinando no seu espírito, adquiriu todos os
caracteres de uma paixão violenta. Não recuou diante das medidas mais rigorosas,
diante das iniquidades até para conseguir o seu fim; mas só desse modo pôde
sacudir o torpor que tolhia o desenvolvimento do país, porque todas as suas
reformas seriam inúteis, se não conseguisse fazer sair o país do letargo em que
o sepultava o fanatismo religioso. Acerca da saída do núncio, cardeal Acciaioli,
que foi acompanhado até à fronteira de Espanha por 30 dragões, deve ler-se a Historia do reinado de D. José, por Simão José da Luz
Soriano, vol. 1, pág. 431 a 445. A este grande ministro se deve a manutenção
austera das prerrogativas do poder temporal contra as invasões da cúria, a ele
se deve também a extinção desse poder formidável, que pesava sobre as gerações,
que comprimia os espíritos, que entorpecia em Portugal todo o pensamento
civilizador. O que se torna notável é que os enciclopedistas, em vez de
aplaudirem as medidas desse grande estadista, as censuravam e combatiam. É
porque o conde de Oeiras tinha grande desdém pelos escritores. A forma mesmo
como ele promulgava as suas medidas imortais, era antiga, e tinha como que um
cheiro reaccionário. Assim, efectivamente, a condenação do Padre Malagrida pela
Inquisição e o seu suplício num auto-de-fé, são realmente actos pouco dignos de
um homem como era o ministro do rei D. José. Não queria ele, porém, dar força à
Inquisição nem restaurar os autos-de-fé. Esse foi o único que se realizou no seu
tempo, e o regulamento que impôs a esse tribunal terrível, anulava-o
completamente. Pouco tempo depois da morte do Padre Malagrida, um acto de
iniciativa numa questão de censura de livros, que o inquisidor‑mor entendeu
dever tomar, fiando-se na sua qualidade de irmão bastardo do rei, rendeu-lhe o
ser preso e desterrado juntamente com seu irmão, outro menino de Palhavã, para as matas do
Buçaco. Este acto de audácia subjugou para sempre a nobreza, e a criação da
intendência de polícia ainda mais contribuiu para a domar. Entretanto continuava
o conde de Oeiras a instar pela extinção da ordem dos jesuítas. A França, a
Espanha e Nápoles, tinham seguido o exemplo de Portugal, expulsando também os
jesuítas. O mesmo fez a corte de Parma; com essa, porém, entendeu Clemente XIII
que podia atrever-se, e reagiu contra a sua medida, mas todas as outras cortes
tomaram o seu partido, e Clemente XIII morreu aterrado pela atitude que estava
tomando para com ele a Europa católica. Subindo ao sólio pontifício Clemente
XIV, voltaram Portugal e as cortes bourbónicas a insistir com o papa para a
extinção da Companhia de Jesus, e em 1773 conseguiram finalmente, depois de
grandes esforços em que tivera sempre a maior parte o ministro português,
arrancar ao papa a desejada medida. Portugal deve ao marquês de Pombal, título a
que Sebastião de Carvalho foi elevado por decreto de 16 de Setembro de 1769,
imensos serviços, mas os maiores foram incontestavelmente a expulsão dos
jesuítas e a reforma da nossa legislação civil, porque essas medidas
significaram a renovação moral deste povo, que se ia deixando adormecer num
letargo de que talvez nunca despertaria. O notável estadista adquiriu, por este
facto, grande influência em toda a Europa.
A
sua política estrangeira foi sempre um modelo de firmeza e de habilidade. Ainda
assim, deve dizer-se, que os despachos insolentes que se lêem em alguns livros
de história, e que se dizem dirigidos pelo marquês de Pombal a Lorde Chatam, são
completamente apócrifos. O que há de verdadeiro neste incidente é que em 1764,
tendo o almirante Boscawen queimado quatro naus francesas nas águas de Lagos, o
marquês de Pombal, sendo ainda conde de Oeiras, exigiu e alcançou de Inglaterra
uma satisfação condigna. É muito louvável a energia com que o marquês de Pombal
sustentou a neutralidade do país na guerra dos Sete Anos, neutralidade de que a
Espanha e a França o queriam obrigar a sair. Foi necessária uma guerra, e não
hesitou. O exército estava ainda completamente desorganizado, e o marquês chamou
da Alemanha o conde de Lippe, um dos bons oficiais de Frederico da Prússia, e o
príncipe de Mecklemburgo-Strelitz, e encarregou-os de organizar solidamente as
tropas portuguesas. E na verdade, a disciplina rigorosa, introduzida pelo conde
de Lippe, fez com que a campanha de 1762, mal iniciada, acabasse dum modo feliz
para nós. Os 10 anos que decorreram entre a paz de Fontainebleau em 1763 e a
reforma da Universidade em 1772 foram talvez os mais fecundos da administração
do marquês de Pombal. Desembaraçado da oposição dos jesuítas, tendo quebrado
todas as resistências, inclusivamente as da Santa Sé, sabendo que em todo o país
ninguém ousaria rebelar-se contra as suas vontades, começou a aplicar largamente
as suas luminosas teorias em matéria de administração e a governar o país com a
energia e o génio de que dera tantas provas. As reformas, de que tomou a
iniciativa neste período de 10 anos, renovaram inteiramente a face de Portugal,
e o arrojaram por um caminho de progresso, onde não tardou a pôr-se a par das
nações mais adiantadas. A primeira coisa, de que se ocupou, foi da reorganização
do exército. O conde de Lippe tratou de regulamentar a disciplina;
estabeleceram-se campos de manobras, e tomaram-se enfim muitas outras
providências. A construção de navios fortaleceu a nossa marinha; o comércio e a
agricultura também foram favorecidos pelo marquês de Pombal, ainda que, na
protecção que lhes deu, se encontra o vestígio das suas erradas ideias
económicas. A intimação feita aos negociantes ingleses para terem caixeiros
portugueses, a regulamentação da Lavoura pela ordem que mandava arrancar em
muitos pontos as vinhas, que deviam ser substituídas por trigais mostram que o
grande reformador tinha tão pouca confiança na liberdade em matéria económica
como em matéria politica. A indústria nacional mereceu-lhe os maiores cuidados,
como prova a protecção eficaz que dispensou à fábrica das sedas, situada no
Rato, em Lisboa, às fabricas de lanifícios da Covilhã, Fundão e Portalegre, e à
fabrica de vidros da Marinha Grande. O sistema do terror é que sempre continuava
a ser seguido por ele. Enquanto abolia a distinção entre cristãos-novos e
cristãos velhos, entre canarins e europeus na Índia; enquanto suprimia a
escravatura no continente de Portugal, suprimia para a imprensa a censura
eclesiástica, substituindo-a, é certo, não pela liberdade, mas pela jurisdição
da Mesa Censória, o que já era um progresso, porque tendia a secularizar o
ensino, mandava enforcar o capitão Graveron, acusado de peculato, mas sem haver
contra ele provas evidentes, e encarcerava no forte da Junqueira o bispo de
Coimbra, D. Frei Miguel da Anunciação, que era, sem dúvida, um dos chefes do
partido reaccionário, mas que enfim era um velho prelado, que não se devia
tratar com tanto rigor. O crime dele estava em proteger uma seita chamada dos
jacobeus ou sigilistas, fanáticos perigosos, e sobretudo em resistir à
instituição da Mesa Censória, proibindo no seu bispado livros que este tribunal
consentia que corressem.
Uma
das grandes glórias do marquês, de Pombal foi o imenso impulso que deu à
instrução popular. A lei de 6 de Novembro de 1772 organizava a instrução
primária do modo mais completo para o tempo. Estabelecia o princípio de
concurso, animava o ensino particular, dotava as escolas com o rendimento de um
novo tributo denominado subsídio
literário. Favorecia a instrução secundária criando escolas, que eram o
germe dos nossos liceus actuais, e convidando as ordens religiosas a que
abrissem aulas nos seus conventos; favorecia a instrução superior criando o
Colégio dos Nobres, e tratando de reformar a Universidade de Coimbra. Para
intentar essa reforma, criou‑se uma junta intitulada da Providência Literária. A alma desse
tribunal era o bispo de Coimbra D. Francisco de Lemos, que foi nomeado reitor da
Universidade, por decreto de 11 de Setembro de 1772. Os estatutos redigidos por
esta junta, introduziram a revolução na Universidade, substituindo aos velhos
métodos legados pelos jesuítas os processos mais audaciosos da ciência nova.
Além das reformas dos estudos, a nomeação de sábios lentes, alguns deles
estrangeiros de nomeada, concorreram muito para o brilhantismo dessa reforma.
Criou estabelecimentos auxiliares, de que anteriormente nem sequer fora
reconhecida a necessidade, como um observatório astronómico, um museu de
história natural, um gabinete de física um laboratório químico, um teatro
anatómico, um dispensário farmacêutico, e um jardim botânico. O rei D. José, por
carta régia de 28 de Agosto de 1772, constituiu o marquês de Pombal seu plenipotenciário e lugar-tenente na
restauração da Universidade. No dia 22 de Setembro entrou na cidade de
Coimbra, no dia 23 publicou o despacho de quatro colegiais para o Colégio dos
Militares; na manhã de 25 recebeu os novos colegiais dos colégios de S. Paulo e
de S. Pedro. Na tarde desse dia foi lida com toda a solenidade e aparato, na
sala grande da Universidade, a seguinte carta régia:
«Honrado Marquês, meu Lugar-Tenente, muito prezado Amigo. Faço saber a essa Universidade, como protector que sou dela, ser servido reformá‑la, e por isso em Meu nome fareis tudo, concedendo‑vos todos os privilégios, que são concedidos, aos Vice‑Reis, e ainda aqueles que eu reservo para Mim. A mesma Universidade o tenha assim entendido, e vos respeite todas as honras, que vos são devidas, pois sois do Meu Real agrado e protecção. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda, em 13 de Agosto de 1772. ‑ Rei.»
No
dia 29 do referido mês de Setembro foram publicados, com a maior solenidade os
novos estatutos, e no dia 30 prestaram os novos lentes o competente juramento,
na presença do marquês de Pombal, no paço. A cerimonia de abertura da
Universidade realizou‑se a 23 de Outubro com imenso esplendor. Foi decerto este
o dia mais jubiloso da existência do notável estadista. Rodeado de homenagens
por um povo de cortesãos, que viam nele não o representante do rei, mas o
próprio soberano de Portugal, tinha além disso a consciência a dizer-lhe que
acabava de prestar ao seu paìs e à civilização o mais elevado e o mais
importante de todos os serviços. A fundação da Imprensa Nacional de Lisboa
completou a obra do marquês de Pombal com relação ao nosso desenvolvimento
intelectual. Esta reforma da instrução pública, a mais importante que tivemos,
valeu ao nosso grande ministro a admiração e o respeito da Europa. Mr. Montigny,
encarregado de negócios de França em Lisboa, não ocultava a sua veneração pelo
homem, que fizera com que houvesse neste pequeno reino tão mergulhado até então
nas trevas, 837 escolas de instrução primária e secundária. O duque de
Aiguillon, ministro que sucedera no gabinete de Luís XV ao duque de Choiseul,
dizia: «A opinião, que formamos dos talentos e das luzes do marquês de Pombal,
dá-nos a mais vantajosa ideia das mudanças e das adições que esse ministro deve
fazer nos estatutos da universidade.» Quando se observa esta importantíssima
reforma, feita pelo marquês de Pombal, quando se vê que o grande ministro soube
arrancar o país das trevas da ignorância em que estava imerso, a trazê‑lo à luz
imensa, que de toda a parte se irradiava pela Europa, quando se nota que todas
as suas reformas tiveram por fim, e conseguiram introduzir em Portugal todos os
elementos civilizadores tem de se confessar que o marquês de Pombal foi neste
extremo da Europa a incarnação viva e eficaz da grande revolução do século
XVIII, e que o seu enérgico despotismo foi uma dessas ditaduras tirânicas mas
fecundas, que em toda a parte precederam e prepararam a aurora da
liberdade.
Foi
por este tempo que se concluiu a estátua do rei D. José, que o grande ministro
destinava para ser o complemento e o remate da sua grande obra da reconstrução
de Lisboa. A estatua do rei D. José, em cujo pedestal figurava o medalhão do
marquês de Pombal, construída pelo grande escultor português Joaquim Machado de
Castre, fundida em bronze pelo tenente coronel de artilharia Bartolomeu da
Costa, inaugurou‑se com extraordinária pompa, na Praça do Comércio no dia 6 de
Junho de 1775. Nesta obra, vol. IV, no artigo Lisboa, a pág. 330 e seguintes, está uma
circunstanciada descrição desta majestosa solenidade. Contudo, enquanto o
marquês de Pombal tomava providências tão sábias e tão justas, continuava a
seguir o sistema de repressão implacável. Os seus colegas no ministério
continuavam a ser as suas vítimas; José de Seabra, que fora o seu braço direito
na luta com os jesuítas, foi de súbito desterrado para Angola por motivo
misterioso. Tempo depois, outro suplicio atroz veio assombrar Lisboa. Em 11 de
Outubro de 1775 foi esquartejado na Junqueira o genovês João Batista Pele,
acusado de tentativa de assassínio contra o marquês de Pombal. A Espanha rompera
de súbito as hostilidades contra nós, por causa dos limites da América, e não
nos quis dar satisfações. A França preparou-se a auxiliá‑la em virtude do Pacto
de Família, e a Inglaterra abandonou‑nos. Apesar disso, o marquês de Pombal,
entendendo que estava empenhada nesta questão a dignidade da coroa portuguesa,
não hesitou em se preparar para a guerra; não cuidava decerto que poderia
afrontar a França e a Espanha com os nossos limitados recursos, mas entendia
também que, logo que o dever falava, a questão da possibilidade desaparecia.
Seria esmagado, mas a sua defesa contra agressões injustas era já um protesto
contra a violência. Quando se preparava para esta luta, cometeu o marquês de
Pombal um acto de atrocidade, que não é dos que menos mancham a sua memória.
Tinham-se refugiado na Trafaria alguns refractários, como se diria hoje. Sendo
difícil apanhá-los naquela aldeia pobríssima, o marquês de Pombal ordenou que se
lançasse fogo a essa povoação de pescadores. Essa ordem, executada barbaramente
em seu nome no dia 23 de Janeiro de 1777 devia encher de pavor os últimos dias
da existência de D. José, que faleceu no dia 24 do mês seguinte de Fevereiro.
Com ele expirava o poder do marquês de Pombal. (V. Portugal, neste vol.
pág. 738, no artigo de Pina Manique).
A
herdeira do trono, beata e dominada pelos nobres, era figadal inimiga do grande
ministro. Assim que o rei fechou os olhos, logo o marquês percebeu que estava
demitido. Sendo mordomo-mor, foi avisado para que se não ocupasse do enterro do
rei. Deram-se largas aos seus inimigos, deixaram-se correr contra ele as maiores
calúnias. Soltaram-se todos os presos políticos que estavam por sua ordem
encarcerados, e o espectáculo miserando dessas vítimas da energia implacável do
marquês de Pombal devia exacerbar contra ele a cólera do povo, sempre mudável.
Em seguida foi demitido, conservando-se-lhe secamente o ordenado de ministro, e
concedendo-se-lhe o rendimento de uma comenda. Dava-se-lhe ordem para se
recolher a sua casa de Pombal, e consentiu-se que o povo o insultasse em casa e
pela estrada, arrancava-se o seu medalhão do pedestal da estatua de D. José e
substituí-se pelo navio com as velas cheias, que é o brasão de Lisboa, o que
fazia com que ele dissesse no seu retiro: Agora é que Portugal vai à
vela. O que houve de mais impudente nesta reacção foi o procedimento de
algumas pessoas, que, para lisonjearem o marquês de Pombal, tinham feito com ele
contratos em que eram lesados e que depois, quando o viram caído, o demandaram
para alcançarem indemnizações! Um tal Galhardo Mendanha chegou a escrever a esse
respeito um folheto que por tal modo indignou o marquês de Pombal, que este
pegou na pena e respondeu com azedume e veemência num folheto que a rainha D.
Maria I proibiu que corresse. As acusações de concussão, de abusos de poder
ferviam, todos os amigos e parentes do marquês eram perseguidos, e afinal a
rainha D. Maria I, cedendo à pressão dos inimigos do marquês e ao natural
impulso da sua própria inimizade, ordenava que o ministro de seu pai fosse
processado. Para isso enviou a Pombal dois desembargadores que sujeitaram o
marquês a um longo e penoso interrogatório, até que o grande homem, prostrado
pela doença, pela fadiga e pelas amarguras, pedia perdão à rainha das faltas que
podia ter cometido. Ao fim de 14 meses, a 16 de Agosto de 1781, expediu a rainha
um decreto no qual declarava que havia por bem perdoar ao marquês de Pombal as
culpas em que incorrera, em atenção aos seus anos e enfermidades. Era uma última
mentira! Não o puniram, porque teriam de punir tombem a memória do rei D. José.
Esse decreto fulminou-o. Estava um pouco melhor dos seus padecimentos, graças a
um tratamento que adoptara. Piorou outra vez de um momento para o outro. O seu
orgulho sentia-se profundamente ferido, a consciência do seu talento e dos
imensos serviços que prestara ao seu país, fez com que gastasse as suas ultimas
forças escrevendo uma Petição de recurso feita à sereníssima rainha D. Maria
I, em que mais uma vez tentou
justificar os seus actos. A opinião pública, ou o que então se podia designar
por esse nome, era-lhe adversa, ou pelo menos indiferente. A petição caiu
portanto no meio desta indiferença ou desta aversão, e não produziu o mínimo
efeito. Dez meses sobreviveu ainda o marquês de Pombal ao funesto decreto, dez
meses de longos e incomportáveis padecimentos. Faleceu enfim o grande estadista
na sua casa de Pombal na idade de 83 anos. Na noite. de 11 de Maio de 1782 foi o
cadáver conduzido num coche puxado por três parelhas para a igreja do convento
de Santo António da vila do Pombal. Esperava-o à porta o bispo de Coimbra, D.
Francisco de Lemos, fiel à caída grandeza, que celebrou com toda a pompa as
exéquias solenes, sendo pregada a oração fúnebre pelo monge beneditino Frei
Joaquim de Santa Clara, notável orador sagrado, que se inspirou na grandeza do
assunto, e legou à posteridade um magnífico discurso que atesta não só o seu
talento mas a grandeza do seu espírito. O Marquês de Pombal, quando faleceu,
assinava-se: Sebastião José do Carvalho e Melo, conde de Oeiras e da Redinha;
marquês de Pombal; do conselho do rei; alcaide-mor de Lamego; senhor donatário
das vilas de Oeiras, Pombal e Carvalho, e do lugar de Cercosa e dos reguengos e
direitos reais de Oeiras e de A-par de Oeiras; direitos do pescado do Porto, de
Peniche e de Atouguia da Baleia; das rendas do pescado e direitos da dízima,
portagem, jugadas, oitavos de pão e quinais de vinho da vila e porto de Cascais;
e das tornas da sisa do pescado e sáveis de Lisboa; padroeiro in solidum
da paróquia de Nossa Senhora das Mercês, da cidade de Lisboa, e das de Santa
Maria da vila de Carvalho e sua anexa, Santa Maria de Cercosa, no bispado de
Coimbra, e do convento de Nossa Senhora da Boa Viagem; comendador das ordens de
Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, etc. O seu brasão era o
dos Carvalhos. Em campo azul uma estrela de ouro, entre uma quaderna de
crescentes de prata. Este brasão também usam os condes da Retinha e os marqueses
de Pomares.
Num
rápido esboço resumiremos a notícia das grandes reformas empreendidas pelo
notável ministro do rei D. José I: Protegeu eficazmente a indústria, levantando
a decaída fábrica de sedas que D. João V fundara, subvencionando e desenvolvendo
as indústrias da chapelaria e relojoaria, fez sair quase do nada a fábrica de
vidros da Marinha Grande, e a de papel da Lousã, tomou a iniciativa do fabrico
da porcelana, protegeu a industria das lãs, e fundou a magnifica fábrica real da
Covilhã. Teve a honra de hospedar no seu palácio e quinta de Oeiras o rei D.
José no Verão dos anos de 1775 e 1776. Nessa quinta realizou uma grande
feira onde concorreram, por sua ordem, os produtos de todos os géneros da
indústria fabril portuguesa, vindo os donos das fábricas armar barracas em
Oeiras, expondo ali à venda os diversos produtos da sua indústria Esta feira
teve um êxito completo; foi uma verdadeira exposição de tudo quanto se fabricava
então em Portugal, e assim teve Oeiras a honra de ali realizar a primeira
exposição industrial que houve no país, e talvez a primeira que se efectuou em
toda a Europa. (V. Portugal, neste
vol. artigo Oeiras, pág. 182 e
seguintes). Favoreceu muitíssimo a agricultura, mas de um modo demasiadamente
despótico, mandando por exemplo arrancar as vinhas do Ribatejo para ter produção
cerealífera. Para desenvolver o comércio criou a Aula do Comércio e fundou
diversas companhias. Na administração civil e económica do país operou
maravilhas, dando o primeiro passo para a liberdade da terra, suprimindo os
morgados insignificantes, regulando-lhes a sucessão e não consentindo que se
instituíssem senão morgados opulentíssimos, declarou livres todos os escravos
que nascessem ou pusessem pé no continente de Portugal, emancipou os índios do
Brasil, acabou na Índia com a distinção entre gentios e cristãos, no reino com a
distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Com o clero procedeu
energicamente, expulsando os jesuítas, impedindo as profissões demasiado
numerosas de frades e de freiras; deu à Inquisição um regimento que a anulava
completamente; na instrução pública reformou completamente a Universidade
pondo-a a par dos estabelecimentos científicos desse tempo no estrangeiro; criou
o Colégio dos Nobres, fundou a instrução primária portuguesa solidamente,
desenvolveu a instrução secundária, aproveitando para isso largamente as ordens
religiosas, refundiu completamente a legislação, acabando com os arrestos
absurdos, com os recursos aos comentadores, etc. ordenou que o direito canónico
apenas regulasse em matérias espirituais. Criou o Erário introduzindo ordem e
método na administração da fazenda, criou no Conselho de Fazenda um tribunal de
contencioso financeiro, administrou com tanta economia que não precisou recorrer
a empréstimos, reorganizou admiravelmente o exército com o auxílio do conde de
Lippe, fortificou Elvas de um modo assombroso, deu impulso à marinha e soube
apreciar e chamar ao ministério Martinho de Melo e Castro que à marinha
portuguesa prestou depois tão relevantes serviços, e ocupou-se com zelo das
colónias, acrescentou o nosso domínio oriental com as Novas Conquistas, o nosso
domínio africano com as ilhas de Bissau, etc. De todos os chefes de governo que
no século XVIII iniciaram em todos os países da Europa as reformas que a opinião
pública reclamava, foi sem dúvida o marquês de Pombal o mais audacioso. O
ilustre ministro teve grande predilecção pela cidade de Aveiro, por causa dum
protesto representação em que a câmara com a assistência dos nobres e povo,
lavrou contra os autores da conspiração do duque de Aveiro, D. José de
Mascarenhas, pedindo para que este fidalgo deixasse de ser donatário de Aveiro.
Esta demonstração dos aveirenses foi recebida com entusiasmo pelo marquês de
Pombal, que se deu pressa em agradecer à câmara, assegurando-lhe que os desejos
do povo, cujo representante era, seriam satisfeitos, e que Aveiro, ficando
pertença da coroa, havia de ser beneficiada tanto quanto pudesse sê-lo. A
palavra do grande estadista foi cumprida. Aveiro entrou numa nova fase de
progresso. Melhorou-se consideravelmente a barra, criaram-se escolas e
procurou-se ensaiar novos sistemas de cultura, como foi a do arroz e da batata.
O marquês também pensou em estabelecer aqui urna fábrica de tecidos de algodão,
para o que mandou proceder a experiências em 1770. Ainda empreendeu outros
melhoramentos de não menor alcance para os interesses da terra, que por decreto
de 11 de Abril de 1759 elevou à categoria de cidade, e por decreto de 4 de
Setembro de 1760, foi de novo elevada a comarca, que desde de D. João III
deixara de ser, para formar um almoxarifado, cujas justiças eram providas pelo
donatário. Em 28 de Setembro de 1773 pediu o marquês de Pombal o báculo de
diocese para Aveiro, que lhe foi concedido por breve apostólico de 12 de Abril
de 1775, sendo o 1.º bispo D. António Freire Gameiro de Sousa. (V. Aveiro).
Devemos
mencionar um acto de justiça nacional, relativo ao notável estadista. Por
decreto de 10 de Outubro de 1833 foi determinado que a «imagem em bronze do marquês de Pombal,
Sebastião José de Carvalho, e Melo que havia sido arrancada do pedestal da
estátua equestre de el-rei D. José, fosse reposta no mesmo lugar». Dizia-se
no preâmbulo do decreto: «Que o marquês de Pombal fora o português que mais
honrou a sua nação no século passado. Que fora ele distinto pelos seus
conhecimentos variados, firme pelo seu carácter; instruído pelas suas meditações
e viagens; e sobretudo dotado de um amor da pátria, de um zelo do bem público e
de um interesse pelo decoro e independência nacional que sempre o levara
nobremente a promover o bem do seu país, e a naturalizar nele as vantagens da
indústria, da civilização, do comércio e das artes. Que a inconstância dos
tempos e o capricho dos homens pretenderam denegrir na pátria o conceito que
nunca fora dela foi disputado a tão ilustre génio, e fizeram, com ingratidão
incrível, desaparecer a sua imagem do centro daquela mesma cidade, que ele tinha
feito renascer das cinzas, para ser uma das mais belas capitais do mundo.
Influenciado por esta convicção, quis o duque de Bragança tributar a devida
justiça ao grande homem, e apagar os vestígios de uma ingratidão, que a geração
presente rejeitava a responsabilidade e desaprovava o erro.» Este decreto era
rubricado pelo ministro do reino Cândido José Xavier. Os restos mortais do
marquês de Pombal foram trasladados para Lisboa, onde chegaram a 1 de Junho de
1856, em honroso préstito. Celebraram-se solenes exéquias, sendo o cadáver
depositado na capela das Mercês, pertencente aos marqueses de Pombal. Num
mausoléu de mármore figurando um modesto caixão colocado sobre dois
desengraçados elefantes, que se vê na capela-mor e no lado direito do altar, se
encerra o que resta do grande e notável estadista. Em Maio de 1882 celebraram-se
pomposas festas em comemoração do centenário da morte do marquês, tanto em
Lisboa, como no Porto e na Universidade do Coimbra, que em 1872, 10 anos antes,
havia celebrado também o centenário da reforma da mesma Universidade.
Sobre
o
grande ministro do rei D. José tem‑se escrito muito, tanto em Portugal, como no
estrangeiro. A relação dos principais trabalhos encontra-se no Dicionário bibliográfico, vol VII, pág. 213 a 216; e no suplemento, volume XIX, peIo Sr. Brito
Aranha, de pág. 17 a 184, onde também se encontram muitas gravuras dos carros
que figuraram no cortejo cívico, por ocasião das festas do centenário, gravuras
das ruínas causadas pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, e diversos
documentos. Além dessas obras, ainda citaremos: «Le marquis de Pombal», na Revue des deux mondes, 1.º de Setembro de 1870; Historia da Instrucção publica em Portugal,
por D. António da Costa; Ensaio sobre
a historia do governo e da legislação de Portugal, de Coelho da Rocha; Perfil do marquez de Pombal. de Camilo
Castelo Branco; O marquez de Pombal, do conde de Samodães; O marquez
de Pombal, por Teófilo Braga; Lisboa antiga, de Júlio de Castilho;
Historia de Portugal, de Schaeffer, Pinheiro Chagas e
Oliveira Martins; O marquez de Pombal, romance histórico, de António de
Campos Júnior; O marquez de Pombal, exame e historia critica da sua
administração, de D. Miguel de
Soto‑Maior; Encyclopedia do Porto,
Diccionario Popular, dirigido por Pinheiro Chagas, de que transcrevemos
alguns períodos, etc.
Av da Liberdade
Estação Ferróviaria do Rossio
Luis tem muito foto... mas eu não sei de onde, e também não sei o que significam. Podes me explicar do que se trata? Eu tenho interesse em saber. Os prédios pintados, onde são? Os de arquitetura antiga, o que são? Gosto muito de arquitetura e fotos urbanas.
ResponderEliminarUm abraço
Carolina
Carolina
Carolina peço desculpa por esse lapso meu mas como algumas fotos já foram colocadas em posts anteriores mas irei fazer umas legendas sim.
ResponderEliminarUm Abraço Luis Almeida
Belas fotos e lindas arquiteturas.
ResponderEliminarAbraços.
Obrigada Marina é Lisboa e a sua singular beleza das Avenidas mais conhecidas.e representativas deste pequeno pais.
EliminarUm Bj.